Acervo

Autores

Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX

Sinhô

Silva, José Barbosa da
  • Pianista
  • ∙ Compositor
  • ∙ Flautista
  • ∙ Violonista

Nascido na rua do Riachuelo, José Barbosa da Silva, conhecido pelo apelido de Sinhô, era filho de Ernesto Barbosa da Silva, mestre pintor que decorava paredes de botequins e sedes de clubes dançantes. Quando tinha 12 anos a família mudou-se para rua Senador Pompeu, época em que começou a estudar flauta por incentivo do pai, que admirava Patápio Silva e Joaquim Callado. Preferiu não se dedicar tanto à flauta, pois logo se interessou em estudar cavaquinho, violão e principalmente piano, aprendendo a tocar de ouvido. Em 1905, com apenas 17 anos, casou-se com Henriqueta Ferreira, com quem teve três filhos. Precisando sustentar a família, começou a trabalhar como pianista em sociedades dançantes e clubes carnavalescos na Cidade Nova. Mais tarde iria separar-se de Henriqueta, falecida em 1914. No ano seguinte atuou como flautista e violonista da Sociedade Progresso do Catete, cujos sócios e freqüentadores fundariam em 1907 o glorioso rancho Ameno Resedá, do qual Sinhô também foi fundador, ao lado de Antenor e Napoleão de Oliveira (diretores), Zé Cavaquinho (José Rabelo da Silva) (flauta e violão), Luís Gonzaga da Hora (bombardão), José Silva (Baianinho) (clarinete), Quincas Laranjeiras (violão), Bonfiglio de Oliveira (trompete), entre outros. Além de tocar na orquestra como flautista e violonista, Sinhô passou a animar os bailes realizados na “jarra”, nome popular da sede do Ameno Resedá, situada na rua Corrêa Dutra 131, atuando mais tarde como diretor de harmonia. Na década de 1910, das várias sociedades carnavalescas das quais Sinhô freqüentou (Democráticos, Fenianos, Dragão Clube Universal, Tome a Bença Vovó, Netinho do Vovô, Fidalgos da Cidade Nova), destaca-se a sociedade Kananga do Japão, da qual seu pai foi sócio e confeccionador de um dos estandartes. Sinhô atuou como pianista e diretor-geral da ala As Sabinas da Kananga, para a qual dedicou seu primeiro samba, Resposta à Inveja, lançado no carnaval de 1917. Sendo freqüentador assíduo dos sambas na casa da baiana Tia Ciata, na rua Visconde de Itaúna, Sinhô figurou entre os que reclamaram a autoria do sucesso carnavalesco do ano, o famoso Pelo Telefone, assinado por Donga. Provavelmente em 1916 conheceu Cecília, pianista que trabalhava na Casa Beethoven, com quem iniciou um romance. Cecília passou a ajudá-lo, escrevendo suas músicas e levando-as à Casa Beethoven para serem editadas a partir de 1918. Data desse ano a edição e a gravação de seu primeiro samba, Quem São Eles?, cujos versos diziam “A Bahia é boa terra/ Ela lá e eu aqui, iaiá”. Fazendo grande sucesso no carnaval, o samba gerou uma polêmica, pois foi visto como provocação à turma de Pixinguinha e aos baianos Hilário Jovino e Tia Ciata, originando várias respostas musicais, entre elas Fica Calmo que Aparece (Donga), Não És Tão Falado Assim (Hilário Jovino) e Já Te Digo (Pixinguinha e China), um dos maiores sucessos do carnaval de 1919. Ao que Sinhô replicou com Três Macacos no Beco. A partir de então Sinhô começa a produzir incansavelmente. De forma a dar maior visibilidade aos seus sambas, Sinhô organizou um conjunto para tocar nas festas do arraial da Penha (realizadas no mês de outubro), local onde ocorria a primeira divulgação das músicas destinadas ao carnaval. Batizou o grupo — composto por flauta, cavaquinho, ganzá, pandeiro e reco-reco — com o mesmo nome do samba, Quem São Eles?, e durante toda década de 1920 marcou presença na festa, defrontando-se com os grandes nomes da música popular da época, como Pixinguinha, Donga e Caninha. Seguindo seu estilo provocador, lançou no carnaval de 1920 os sambas Fala, Meu Louro (sátira a Rui Barbosa) e O Pé de Anjo (crítica aos pés de China), para o qual buscou inspiração na valsa francesa Jenny de J. Droin. Ambos foram gravados por Francisco Alves, estreando em disco em 1919. No ano seguinte lançou Fala Baixo, uma marcha que satirizava a censura policial imposta pelo governo, chegando, por isso, a ser perseguido pela polícia. A repercussão dos sambas de Sinhô na Festa da Penha chamou a atenção de revistógrafos, que passaram a usar os títulos dessas músicas para dar nome às suas revistas. Foi o caso de A Bahia É Boa Terra, título extraído do samba Quem São Eles?, estreada em 1919 no Teatro São Pedro; em 1920 foram levadas à cena É de Ban-ban-ban (Rego Barros e Carlos Bittencourt); Confessa, Meu Bem (Cardoso de Meneses e B. Vivas); O Pé de Anjo (B. Vivas e Bento Mossurunga); Quem É Bom Já Nasce Feito (Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses); estreadas em 1921: Então Eu Não Sei (J. Praxedes e Sinhô); Coco de Respeito (Henrique Martins, Paulino Sacramento e Raul Martins); Segura o Boi (Carlos Bittencourt e Cardoso de Meneses); Segundo Clichê (Procópio Ferreira e Sinhô); Vou Me Benzê (J. Miranda e Sinhô); Não Posso Me Amofinar (Henrique Júnior e Pedro Sá Pereira). Em 1927, ano do lançamento de dois sambas de grande sucesso, Ora Vejam Só e A Favela Vai Abaixo, Sinhô foi coroado como o “Rei do Samba” na Noite Luso-Brasileira realizada no Teatro República. No ano seguinte tornou-se professor de violão de Mário Reis, moço da sociedade carioca, e percebendo seu talento como cantor, levou-o para gravar dois de seus sambas na Odeon, Que Vale a Nota Sem o Carinho da Mulher? e Carinhos de Vovô. Mais tarde Mário Reis gravou músicas com as quais Sinhô atingiu o auge de seu sucesso: Jura e Gosto Que Me Enrosco. A última foi reivindicada por Heitor dos Prazeres, assim como o samba Ora Vejam Só e, ao que tudo indica, Sinhô teria lhe dito a célebre frase: “Samba é como passarinho, é de quem pegar…”. Prazeres desabafou produzindo três sambas: Olha Ele, Cuidado e Rei dos Meus Sambas. Em 1929 Sinhô se engajou na campanha política de Júlio Prestes (representante da oligarquia cafeeira) na sucessão do presidente Washington Luís, viajando para São Paulo para participar do lançamento de Seu Julinho Vem, canção de Freire Júnior composta por encomenda para peça do mesmo nome. Sinhô participou da montagem realizada no Teatro Municipal de São Paulo, onde apresentou uma de suas últimas composições (Eu Ouço Falar / Seu Julinho), pois a tuberculose que havia contraído já andava em estado avançado. Em agosto de 1930, indo da Ilha do Governador, onde morava, para o Rio de Janeiro, faleceu na barca a caminho do estúdio de gravação para gravar O Homem da Injeção, inspirado em um crime ocorrido em julho do mesmo ano. Seu enterro foi uma grande comoção na cidade com a presença de representantes de vários grupos sociais, como retratou o poeta Manuel Bandeira: “… malandros, soldados, rendez-vous baratos, meretrizes, chauffeurs, macumbeiros, todos os sambistas de fama, os pretinhos dos choros dos botequins das ruas Júlio do Carmo e Benedito Hipólito, mulheres dos morros, baianas de taboleiro, vendedores de modinhas…”

Data detalhada de nascimento

08.09.1888

Data detalhada de falecimento

05.08.1930

Fonte de pesquisa

1. ALENCAR, Edigar de. Nosso sinhô do samba. Rio de Janeiro: Funarte, 1981. 2. VASCONCELOS, Ary. A nova música da república velha. Rio de Janeiro: 1985. 3. BARBOSA, Orestes. Samba: sua história, seus poetas, seus músicos e seus cantores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1978. 4. RANGEL, Lúcio. Sambistas e chorões — aspectos e figuras da música popular brasileira. Rio de Janeiro, 1962. 5. ALMIRANTE. No tempo de Noel Rosa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. 6. ALENCAR, Edigar de. O carnaval carioca através da música. Rio de Janeiro/Brasília: Francisco Alves Editora/INL, 1979. 7. EFEGÊ, Jota. Ameno Resedá, o rancho que foi escola. Rio de Janeiro: Editora Letras e Artes Ltda, 1965 8. EFEGÊ, Jota. Figuras e coisas da música popular brasileira vol 1. Rio de Janeiro: Funarte, 1978. 9. EFEGÊ, Jota. Figuras e coisas da música popular brasileira vol 2. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. 10. ALENCAR, Edigar de. O fabuloso e harmonioso Pixinguinha. Rio de Janeiro/Brasília: Cátedra/ INL, 1979. 11. VALENÇA, Suetônio Soares. Tra-la-lá. Rio de Janeiro: Funarte, 1981. 12. MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Funarte, 1995. 13. RUIZ, Roberto. Araci Cortes — Linda flor. Rio de Janeiro: Funarte/INM/Divisão de Música Popular, 1984. 14. FRANCESCHI, Humberto. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sarapuí, 2002.

Natural

Rio de Janeiro - RJ