Acervo
Autores
Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX
Benedito Lacerda
Lacerda, Benedito
- Compositor
- ∙ Flautinista
- ∙ Flautista
- ∙ Regente
Benedito Lacerda começou a tocar flauta transversa aos 8 anos, de ouvido, entrando bem cedo para a banda da Sociedade Musical Nova Aurora, em Macaé. Em 1920, chega ao Rio de Janeiro já com uma experiência extensa como músico de bandas e dois anos depois, ingressa na banda do exército. Morando no Estácio – bairro de sambistas e chorões – , trava contato com o tipo de música que viria a marcar a sua vida profissional. Antes dos 20 anos de idade, matricula-se no Instituto Nacional de Música, diplomando-se em flauta e composição. Em 1927, pede baixa e passa a se dedicar profissionalmente à música, tocando em orquestras de cinemas e teatros, e filiando-se ao conjunto regional Boêmios da Cidade.
Em 1930, coube a Benedito dar forma definitiva ao chamado conjunto regional, quando cria o grupo Gente do Morro, dedicado a executar ritmos brasileiros com forte percussão acompanhando seus solos de flauta. Esse grupo foi a gênese do Conjunto Regional Benedito Lacerda, com percussão mais atenuada e ênfase nos instrumentos de cordas dedilhadas. Na primeira formação, trazia Gorgulho e Ney Orestes ao violão, Canhoto ao cavaquinho e Russo do Pandeiro. A partir de 1937, cristalizou-se a formação definitiva, com Dino e Carlos Lentine, depois Meira nos violões e Popeye no pandeiro, que perdura até 1950, quando Benedito se retira do grupo.
Em fins da década de 1940, as 34 gravações conhecidas do Regional com Benedito Lacerda na flauta e Pixinguinha no saxofone tenor representaram um divisor de águas na história da música brasileira. Depois dessas gravações, os arranjos de choro nunca mais foram os mesmos, e pode-se encontrar aí uma das origens do conjunto Época de Ouro, de Jacob do Bandolim, que levou a dimensão camerística do choro ao extremo. Praticamente todos os grandes cantores e músicos da época foram acompanhados por Benedito Lacerda e seu Regional: Francisco Alves, Silvio Caldas, Orlando Silva, Aracy de Almeida, Dorival Caymmi e Carmen Miranda, entre muitos outros.
Em 1942, Benedito Lacerda participa da fundação da União Brasileira de Compositores (UBC), e depois da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM), da qual foi presidente. É autor de cerca de 700 músicas, entre choros, sambas e marchinhas, como A Jardineira, em parceira com Humberto Porto. As peças instrumentais mais famosas são também a origem da polêmica levantada por pesquisadores que afirmam que os choros assinados por ele em parceria com Pixinguinha (Ingênuo, O gato e o canário, Os oito batutas, Proezas de Solón, Um a zero e Vou vivendo, entre tantas outras) seriam, na verdade, composições só de Pixinguinha - que lhe teria dado parceria por dívida de gratidão. Suas composições instrumentais sem parceiros são ainda relativamente desconhecidas, e pouco executadas pelos músicos de hoje.