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Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX

Catulo da Paixão Cearense

Cearense, Catulo da Paixão
  • Compositor
  • ∙ Cantor
  • ∙ Violonista
  • ∙ Letrista

Filho do ourives Amâncio José da Paixão Cearense e de Maria Celestina Braga da Paixão, aos dez anos mudou-se com os pais e os irmãos para o Ceará, onde viveu até os 17 anos. Em 1880 transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar em Botafogo, onde o pai instalou a sua ourivesaria e relojoaria. Começou a estudar flauta e especialmente violão, freqüentando uma república de estudantes em Copacabana onde conviveu com Anacleto de Medeiros, Quincas Laranjeiras, o cantor Cadete, entre outros músicos com os quais passou a fazer serenatas. Compôs então sua primeira modinha, intitulada Ao Luar. Como autodidata aprendeu português, matemática e francês, chegando a fazer traduções de poetas franceses. Provavelmente nesse mesmo ano de 1880 perdeu a mãe, e três anos mais tarde perderia o pai. Precisando trabalhar para viver, conseguiu um emprego no cais do porto, primeiro como contínuo e depois como estivador. À noite continuou a freqüentar serestas, vestindo-se da forma mais elegante possível. Convidado para uma festa na casa do Conselheiro do Império, o senador Gaspar da Silveira Martins, recitou poesias e cantou modinhas, tornando-se o centro das atenções. Esta noite foi decisiva na vida de Catulo, pois pela primeira vez foi reconhecido por pessoas da alta sociedade, sendo aplaudido de pé. Ao final da festa recebeu e aceitou o convite para viver na residência do conselheiro, na Gávea, trabalhando como explicador de seus filhos, embora sua permanência tenha durado pouco tempo. Publicou seu primeiro livro de modinhas em 1887, Cantor Fluminense de 1887. Entre 1889 e 1908 sua fama começou a crescer. Publicou nesse período uma série de livros de modinhas em sucessivas edições que se esgotaram rapidamente. Entre eles estão: Cancioneiro Popular (50 edições), Lira dos Salões (8 edições), Novos Cantares (6 edições), Lira Brasileira (5 edições), Trovas e Canções (4 edições), Florilégio dos Cantores (4 edições). A partir de 1902, quando Fred Figner abriu a primeira gravadora no Rio de Janeiro e começou a comercializar discos e gramofones, as modinhas de Catulo, gravadas por Baiano, Eduardo das Neves, Cadete, entre outros, tornaram-se conhecidas e divulgadas em todo Brasil. Entre essas estavam várias melodias conhecidas do repertório de compositores de choro, para as quais Catulo escreveu versos, tais como: Talento e Formosura (música de Edmundo Otávio Ferreira), O Sertanejo Enamorado e Você Não Me Dá (músicas de Ernesto Nazareth), Os Olhos Dela e Vai Meu Amor ao Campo Santo (músicas de Irineu de Almeida), Tu Passaste por Este Jardim (música de Alfredo Dutra), Ontem ao Luar (música de Pedro de Alcântara), Rasga o Coração, Por um Beijo e Palma de Martírio (músicas de Anacleto de Medeiros), Flor Amorosa (música de Joaquim Callado), Templo Ideal (música de Albertino Pimentel), Clélia (música de Luiz de Souza), Porque Eu Fui Poeta (música de Juca Kalut). Foi Catulo o responsável por fazer do violão um instrumento reconhecido nos salões da alta sociedade. Em julho de 1908, já tendo alcançado grande prestígio, conseguiu convencer o então diretor do Instituto Nacional de Música, Alberto Nepomuceno, a realizar no auditório do Instituto — nessa época na rua Luís de Camões — uma audição de suas canções. Contando com a presença de figuras ilustres, o espetáculo foi um sucesso, embora tenha despertado críticas dos conservadores que consideravam uma profanação permitir a presença de tal instrumento em um salão de música erudita. Em seguida Catulo realizou outro recital, desta vez no auditório do Teatro João Caetano, erguido na Praia Vermelha, na Urca, para a Exposição Nacional. Publicou ainda nesse ano um novo livro de modinhas: Choros ao Violão (10 edições). A série de 11 livros de modinhas de Catulo se completa com a publicação de Canção das Madrugadas (7 edições), A Canção do Africano (3 edições) e O Vagabundo (3 edições). Em 1914, usando o tema folclórico É do Maitá! adaptado anteriormente por João Pernambuco, escreveu os versos de Luar do Sertão, publicados em 1924 no livro Mata Iluminada. Nesse mesmo ano foi convidado pelo presidente Hermes da Fonseca e sua mulher, a caricaturista Nair de Tefé, para dar um recital no Palácio do Catete. Como prêmio ganhou um emprego na Imprensa Nacional. Em 1918 iniciou nova fase de sua vida como poeta sertanejo. Escreveu poemas utilizando o linguajar falado nos sertões, publicados nos livros Meu Sertão e Sertão em Flor. Após receber duras críticas de Rui Barbosa e Monteiro Lobato pela má utilização da língua nacional, abandonou a empreitada e voltou a escrever em português castiço, publicando ainda uma série de livros até a década de 1940. Durante a década de 1930 as canções de Catulo continuaram a ser gravadas por grandes cantores como Vicente Celestino, Gastão Formenti, Paraguassu, Patrício Teixeira, Francisco Alves, entre outros. Entretanto, os últimos anos de sua vida foram extremamente difíceis. Morou em um barracão de madeira na antiga rua Francisca Méier (hoje rua Catulo da Paixão Cearense, no subúrbio carioca do Engenho de Dentro) tendo cedido seus direitos autorais por valor irrisório ao amigo Guimarães Martins. Quando Catulo faleceu a Banda do Corpo de Bombeiros tocou a Marcha Fúnebre e milhares de pessoas compareceram ao seu enterro, onde ao final cantaram: “Não há, ó gente/ oh, não/ luar como este / do sertão…”

Data detalhada de nascimento

31.01.1863

Data detalhada de falecimento

10.05.1946

Fonte de pesquisa

1. PINTO, Alexandre Gonçalves. O Choro — reminiscências dos chorões antigos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1978. (p. 56, 57, 58, 61, 70, 77) 2. ENCICLOPÉDIA DA MÚSICA BRASILEIRA: POPULAR, ERUDITA E FOLCLÓRICA. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1998. 3. AQUARONE, F. História da música brasileira. Rio de Janeiro/São Paulo/Belo Horizonte: Livraria Francisco Alves/Editora Paulo de Azevedo Ltda., 1946. 4. VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira na Belle Époque. Rio de Janeiro: Livraria Santana Ltda., 1977. 5. Encarte do LP Catulo da Paixão Cearense / Cândido das Neves (Índio). Série Música Popular Brasileira. Abril Cultural, 1971.

Natural

São Luís - MA