Acervo
Autores
Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX
Heitor Villa-Lobos
Villa-Lobos, Heitor
- Compositor
- ∙ Regente
- ∙ Violonista
- ∙ Violoncelista
Aos seis anos de idade iniciou seu aprendizado musical com o pai, Raul Villa-Lobos (músico amador e funcionário da Biblioteca Nacional), estudando violoncelo em uma viola adaptada ao seu tamanho. Sua mãe, Noêmia Monteiro Villa-Lobos, era filha do popular compositor Antônio José dos Santos Monteiro, pianista no Rio de Janeiro na época de D. Pedro II, autor de valsas, polcas, quadrilhas e modinhas de sucesso, autor de valsas, polcas, quadrilhas e modinhas de sucesso. Noêmia queria que o filho cursasse medicina, mas a morte de Raul quando Heitor tinha apenas 12 anos acelerou a sua profissionalização como músico. Começou a ganhar a vida como violoncelista de orquestras de teatros, cinemas e restaurantes. Seu contato com o ambiente do choro teve início nessa época, quando, após tocar nas orquestras, os músicos reuniam-se com violonistas e cavaquinistas seresteiros para tocar livremente, de forma improvisada. Mais tarde reconheceria que nestas reuniões obteve a noção exata da verdadeira arte do contraponto. Foram seus companheiros de choro: Anacleto de Medeiros, Catulo da Paixão Cearense, Satyro Bilhar, Juca Kalut, Ernesto Nazareth, Cadete, Eduardo das Neves, entre outros. Aprendeu a tocar violão e começou a compor de forma autodidata. A maior parte da produção deste período foi escrita para violão. A partir dos 18 anos decidiu viajar por vários estados brasileiros como forma de conhecer melhor o seu país, o folclore e a diversidade cultural. Começou a ter suas peças executadas em recitais por ele próprio e por outros músicos, além de atuar dirigindo concertos. Por volta de 1912 – aos 25 anos – fixou-se novamente no Rio de Janeiro e começou a produzir obras camerísticas: sonatas, trios, quartetos, além de música sacra e bailados com temas indígenas, como as Danças dos Índios Mestiços, sob influência de seus estudos em viagens. Durante toda década de 1910 projetou-se como compositor de peças orquestrais, passando a compor incessantemente. Teve obras sinfônicas executadas no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (1919 e 1920) e em São Paulo, durante a Semana de Arte Moderna (1922). Já tendo composto mais de cem músicas, em 1923, a partir do incentivo e apoio de vários amigos, mudou-se para Paris, onde permaneceu durante sete anos. Alcançou grande prestígio nos centros musicais da Europa, realizando concertos de obras originais na França, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Suíça, Luxemburgo etc. Conviveu com compositores renomados da época como Ravel, Manuel de Falla, Stravinski, Prokofiev, entre outros que tinham por ele grande admiração pela sua forma arrojada e inovadora de compor livre dos moldes consagrados. Durante a década de 1920 compôs uma das séries mais famosas de toda sua obra: a série Choros, um conjunto de 13 peças de concerto (nº 2 ao nº 14 — o Choros nº 1 foi escrito para violão solo e dedicado a Ernesto Nazareth) que buscava a universalização do gênero que lhe trouxe inspiração para compor. A partir de 1930, quando retornou ao Rio de Janeiro, dedicou-se a uma campanha de reforma do ensino de música nas escolas públicas do Brasil, a partir do canto orfeônico. Foi criada a SEMA (Superintendência de Educação Musical e Artística) a pedido do então Secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, para que Villa-Lobos pudesse coordenar o movimento, cujo principal objetivo era a formação da consciência musical brasileira como fator de civismo e disciplina social coletiva. À frente da SEMA, realizou no Rio de Janeiro vários concertos orfeônicos que contavam com a participação de até 40.000 escolares cantando a duas, três e quatro vozes. Em 1942 criou o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico para a formação de professores e produziu material didático para o ensino que até então não existia no Brasil. Dessa atividade surgiu a publicação do Guia Prático (137 melodias selecionadas e harmonizadas para canto e piano, coro e conjunto instrumental) baseada no folclore brasileiro. Villa-Lobos acreditava que “a grande música é a que, originando-se nas fontes folclóricas, alcança, no entanto, uma expressão humana universal”. Essa era a sua visão sobre a obra de um dos compositores que mais admirava: J. S. Bach. Assim começou a compor entre 1930 e 1945 outra importantíssima série, as Bachianas Brasileiras, um conjunto de nove peças de concerto baseadas na afinidade entre a música de Bach e a música popular instrumental brasileira. Em 1940 Villa-Lobos intermediou o encontro do maestro inglês Leopold Stokowski (1882–1977), seu amigo desde os tempos de Paris, com importantes artistas da música popular brasileira, para uma série de gravações destinadas ao Congresso Folclórico Pan-Americano. As gravações foram feitas a bordo do navio que trouxe o maestro e a sua orquestra (All American Youth Orchestra), que faria dois concertos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Das 40 músicas gravadas apenas 16 foram aproveitadas em dois álbuns de quatro discos de 78 rpm com o título Columbia Presents – Native Brazilian Music – Leopold Stokowski. Foram gravados choros, sambas, batuques, maracatus, modinhas, entre outros gêneros, tendo como intérpretes e/ou acompanhantes, Pixinguinha, Luís Americano, Jararaca, Ratinho, Mauro César, Donga, Zé da Zilda, entre outros. A partir de 1944 Villa-Lobos passou a viajar anualmente para os EUA e Europa, em turnês como regente, e lá pôde gravar em disco boa parte da sua produção. Faleceu de câncer em 1959 e no ano seguinte foi criado, por decreto presidencial, o Museu Villa-Lobos, destinado a cultivar a sua memória e a preservar e difundir sua obra.