Acervo
Autores
Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX
Canhoto do Cavaquinho
Tramontano, Waldyro Frederico
- Cavaquinista
- ∙ Compositor
Órfão de pai aos 7 anos (e sendo o mais velho de seus 5 irmãos), Canhoto logo teve que ajudar no sustento da casa, catando bolas em campos de golfe e entregando pão na vizinhança. Mas, nas horas vagas, era para o cavaquinho dado pelo pai que ele corria, desde cedo acompanhando choros como o Flor do Abacate, de Álvaro Sandim.
Protagonista na história dos conjuntos regionais, Canhoto foi aluno de Galdino Barreto, e fez parte da primeira formação do Gente do Morro (1930), grupo que, liderado por Benedito Lacerda, ocupou posição de destaque no cenário musical brasileiro. Passando a levar o nome do flautista desde 1934, em 1937 o Regional ganha dois violonistas de peso. Dino, Meira e Canhoto formam, a partir daí, o mais importante núcleo de acompanhamento da música brasileira. No final da década de 1940, junta-se ao Regional o saxofone de Pixinguinha, fazendo os célebres contrapontos à flauta de Benedito Lacerda. Na década de 1950, com a saída de Benedito, Canhoto assume a liderança do grupo, chamando Altamiro Carrilho para solista. Durante anos, o Regional do Canhoto mantém-se com imenso sucesso, tendo Altamiro Carrilho na flauta, Canhoto no cavaquinho, Dino e Meira nos violões, Orlando Silveira no acordeom e Gilson de Freitas no pandeiro (mais tarde substituído por Jorginho do Pandeiro).
Canhoto não compôs muito. Os choros Gingando, Canhotinho e Visitando (com Orlando Silveira), o tango Lenço Branco e o baião Teco-teco (parcerias com Meira) são as poucas obras conhecidas de sua autoria. Em compensação, seu cavaquinho pode ser ouvido em gravações que atravessaram a maior parte do século XX. Depois do declínio do rádio e do fim do seu regional, Canhoto continuou tocando profissionalmente até a década de 70, quando marcou presença nos discos de Cartola, MPB4, Chico Buarque e Paulinho da Viola. Sua maior especialidade era o cavaquinho de centro, de acompanhamento. Luciana Rabello, que conviveu com Canhoto nos anos 1970 e escutou dele o maior dos elogios (“- Garota, você é quem melhor me imita!”), fala de sua importância: “Canhoto criou uma escola de cavaquinho de centro, que influenciou muita gente de gerações posteriores. Antes de figuras como Galdino Barreto, Mário Álvares, Nelson Alves, o cavaquinho era um instrumento ainda (e unicamente) português, restrito ao acompanhamento de modinhas e ritmos rurais. O ‘abrasileiramento’ efetivo desse instrumento aconteceu a partir do trabalho realizado por esses pioneiros no ambiente do choro (...). No que diz respeito ao acompanhamento, essa escola se consolida definitivamente através do Canhoto."
Já aposentado e morando na Tijuca, o cavaquinista continuou frequentando rodas de choro na Penha e na Ilha do governador. Nessas ocasiões, bebia leite (nunca bebeu álcool) e ficava quase o tempo todo em pé – para não amassar a calça, dizem.