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Autores
Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX
Radamés Gnattali
Gnattali, Radamés
- Arranjador(a)
- ∙ Compositor
- ∙ Maestro
- ∙ Orquestrador
- ∙ Pianista
- ∙ Professor
De família italiana apaixonada por ópera, Radamés foi batizado em homenagem a uma ópera de Verdi, assim como sua irmã, Aída. Seu pai tocava piano, fagote e contrabaixo, e sua mãe era pianista e professora de música. Sua educação escolar durou só até os 14 anos, quando largou tudo para se dedicar exclusivamente à música. Fez exame para o Conservatório Musical de Porto Alegre, sendo aprovado direto para o 5º ano de piano. Ali estudou violino por 9 anos, para seguir carreira de concertista. Também tocava flauta, clarinete, pistom e saxofone, passando depois a tocar viola no Quarteto de Cordas Henrique Oswald por dois anos.
Em 1929 se apresenta tocando o Concerto em si bemol maior, de Tchaikovski, pela primeira vez com orquestra, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Estreia como compositor em 1930, apresentando o Prelúdio nº 2 (Paisagem) e o Prelúdio nº 3 (Cigarra) no Teatro São Pedro, em Porto Alegre. No mesmo ano, apresenta suas composições Ponteio - roda e samba e Rapsódia brasileira. Vem definitivamente para o Rio de Janeiro em 1931, com objetivo de fazer o concurso do Instituto Nacional de Música - que acaba não se realizando. Já nesse ano, é escolhido como a revelação do 4º Concerto da Série Oficial do Instituto Nacional de Música, com suas obras Suíte para piano, Rapsódia brasileira e Pequena suíte para quarteto de arco e piano. Em 1939 é escolhido como um dos representantes brasileiros na Feira Mundial de Nova York.
Ao mesmo tempo em que ia se aperfeiçoando no universo erudito, Radamés mantinha os ouvidos bem abertos para a música popular. Na década de 1920, já frequentava serestas e blocos de carnaval e, como não podia levar o piano pela rua, começa a tocar violão e cavaquinho. Logo integra as orquestras de Romeu Silva e Simon Bountman, tocando em bailes, rádios, gravações de discos e operetas. Em 1932 passa a atuar também nas Orquestras Típica Victor, Diabos do Céu e Guarda Velha. Como, na época, um músico erudito fazendo música popular era olhado com certa desconfiança, Radamés utilizava o pseudônimo de Vero.
Começa a chamar a atenção fazendo arranjos inesquecíveis para Carinhoso e Rosa, de Pixinguinha, ambos gravados por Orlando Silva. Sua orquestração para Aquarela do Brasil incorpora-se definitivamente à música de Ary Barroso. Em 1936 participa da inauguração da Rádio Nacional, onde atua por 30 anos como pianista, solista, maestro, compositor e arranjador, inovando e aproveitando seu conhecimento erudito no trato com a música popular. Em 1941 recebe o prêmio Roquete Pinto por seu trabalho no rádio brasileiro. Em 1956, é escolhido pela revista Radiolândia como o melhor arranjador do ano.
Suas idéias revolucionárias logo chegam também aos discos. Em 1956, lança o LP Suíte popular brasileira para violão e piano - Radamés Gnattali e Laurindo de Almeida. No mesmo ano rege sua orquestra na gravação do LP Lamento negro, lançado pelo cantor negro Nelson Ferraz, em um trabalho original que se tornaria um marco.
Em 1960, amplia o seu Quarteto Continental transformando-o em Sexteto Radamés, formado então por ele e Aída Gnattali ao piano, Chiquinho do Acordeom, Zé Menezes na guitarra, Pedro Vidal Ramos no baixo e Luciano Perrone na percussão. Com esse grupo viaja para a Europa, integrando a II Caravana Oficial da Música Popular Brasileira com apresentações em Portugal, França, Alemanha, Itália e Inglaterra. Em 1964, lança o LP Retratos - Jacob e seu bandolim, onde grava, com o bandolinista e a sua orquestra, a Suíte Retratos - obra antológica em 4 movimentos, onde homenageia Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Chiquinha Gonzaga. É contratado pela TV Globo, onde trabalha durante 11 anos como arranjador, compositor e regente. Em 1968, participa com sua orquestra do espetáculo Pixinguinha 70, no Teatro Municipal.
Com seu brilhantismo e atuação excepcional, Radamés transcendeu preconceitos e o tradicional distanciamento entre as músicas erudita e popular. Ao longo da carreira, além de concertos e peças sinfônicas, compôs choros, sambas, sambas-canções, mambos, fox-trots e dobrados, interpretados por cantores como Elizeth Cardoso, Zezé Gonzaga, Chiquinho do Acordeom e tantos outros. Foi peça fundamental no movimento de redescoberta do choro ocorrido na década de 1970, estimulando releituras de Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e de outros mestres do choro, e incentivando jovens talentos como Raphael Rabello, Luciana Rabello e Maurício Carrilho. Em 1979, lança com a Camerata Carioca um LP em homenagem a Jacob do Bandolim. Em 1982, grava ao piano, com Raphael Rabello ao violão, um LP em tributo ao violonista Garoto. Em 1983, recebe o Prêmio Shell na categoria música erudita, sendo homenageado com um concerto no Teatro Municipal, com a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, Duo Assad e Camerata.
Em 1986 sofre um derrame que o obriga a enfrentar um longo tratamento para voltar a tocar. Acaba falecendo dois anos depois, vítima de um segundo e fatal derrame. Dois anos após sua morte, o selo Kuarup lança o LP Radamés Gnattali e a música popular. Em 1991, a mesma gravadora lança Radamés Gnattali/ Waldemar Henrique - 80 anos de música brasileira. Em 2006, ano do centenário de seu nascimento, a Orquestra Petrobrás Sinfônica o homenageia tocando seu Concerto Para Piano e Orquestra, gravado ao vivo e lançado em CD duplo naquele mesmo ano. Ainda em 2006, sai o álbum 100 anos de Radamés Gnattali, com sua obra integral para violoncelo e piano executada pelo violoncelista inglês David Chew e pela pianista carioca Fernanda Canaud. Valdinha Barbosa e Anne Marie Devos publicam a biografia Radamés Gnattali: o eterno experimentador.