Acervo
Autores
Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX
João da Baiana
Guedes, João Machado
- Compositor
- ∙ Ritmista
Filho de Félix José Guedes e Perciliana Maria Constança. Seus avós, ex-escravos tinham uma quitanda de artigos afro-brasileiros no Largo da Sé. Sua mãe, conhecida pelo nome de Tia Perciliana, era baiana, donde surgiu seu apelido, João da Baiana, para distingui-lo de outros Joões do bairro. Foi criado na Rua Senador Pompeu, no bairro da Cidade Nova, onde tomou lições de cartilha com D. Maria Josefa. Na infância, teve como companheiros os futuros compositores Donga e Heitor dos Prazeres. Seus pais constantemente promoviam festas de candomblé, para as quais deviam tirar licença com o chefe de polícia, pois na época o samba, a batucada e o candomblé eram manifestações proibidas. Sua mãe teve 12 filhos, todos baianos, exceto ele. Um de seus irmãos - O Mané - era palhaço do Circo Spinelli e tocava violão e cavaquinho. Uma de suas irmãs tocava violino. Começou a compor sambas desde garoto. Sua mãe apreciava os dotes do menino para a batucada, o candomblé e a macumba, dotes que o destacavam de seus irmãos. Iniciou-se no pandeiro, instrumento para o qual tinha grande aptidão. Segundo seu depoimento ao M.I.S, que abriu em 1966 o ciclo de depoimentos para a posteridade, de larga repercussão no Rio e em todo o país, "eu sempre me dediquei ao pandeiro porque tinha amor ao ritmo. Os garotos formavam uma roda de samba e eu é quem tocava melhor o pandeiro". Ainda menino, trabalhou no circo como chefe da claque dos garotos que respondiam ao "Hoje tem marmelada ? Tem sim senhor". Por essa época, passou a se dedicar à pintura, uma grande paixão do compositor. Aos nove anos, ingressou como aprendiz no Arsenal da Marinha. Deu baixa três anos mais tarde, passando então a trabalhar no 2º Batalhão de Artilharia, como ajudante de cocheiro sob o camando de Hermes da Fonseca, futuro Marechal e Presidente da República. Em 1908, quando se apresentava na tradicional Festa da Penha, teve seu pandeiro apreendido pela polícia. O senador Pinheiro Machado, que era seu admirador e que freqüentemente promovia festas em "seu" palácio no Morro da Graça, o convidou para uma dessas festas e como ele não apareceu, quis saber o porque. Ao saber que o instrumentista tivera seu pandeiro apreendido, resolveu presenteá-lo com um novo padeiro, que trazia a seguinte inscrição: "Com a minha admiração, ao joão da Baiana - Pinheiro Machado". Com essa dedicatória do senador, pode voltar por diversas vezes à Festa da Penha, como integrante do Grupo do Malaquias, sem que a polícia fosse atormentá-lo. Em 1910, passou a trabalhar no Cais do Porto, sendo promovido a fiscal, em 1920. Por esse motivo, não acompanhou "Os oito batutas" à Paris, pois não queria trocar seu emprego certo pela aventura. Aposentou-se em 1949. Casou-se e teve dois filhos que morreram ainda na infância. Em 1972, foi recolhido à Casa dos Artistas, em Jacarepaguá, onde morreu dois anos depois.
Foi o responsável pela introdução do pandeiro no samba. Segundo depoimento prestado ao M.I.S. " na época o pandeiro era só usado em orquestras. No samba quem introduziu fui eu mesmo. Isto mais ou menos quando eu tinha oito anos de idade e era Porta-machado no "Dois de Ouro" e no "Pedra do Sal". Até então nas agremiações só tinha tamborim e assim mesmo era tamborim grande e de cabo. O pandeiro não era igual ao atual. O dessa época era bem maior".