Acervo
Autores
Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX
Maestro Portinho
Porto Filho, Antonio
- Clarinetista
- ∙ Maestro
- ∙ Saxofonista
Rio Grande é conhecida por seu porto, sua praia e sua história. Mas pode ser representada, também, pela música que sempre produziu, através de talentosas bandas e renomados artistas. No passado, por terra e por mar, chegaram aqui influências musicais de todas as partes do mundo, formando um mosaico cosmopolita que vai do samba ao rock’n roll. Personagens desta história, os músicos são parte inerente à cultura papareia. Um deles, no entanto, permanece esquecido, apesar do inconteste talento e da fama que alcançou: é Antonio Porto Filho, o Maestro Portinho.
Nascido em Rio Grande, no longínquo 27 de setembro de 1925, filho de trombonista, neto de sanfoneiro, sobrinho de violinista – sua família respirava música! –, Portinho se deixou seduzir pelo universo musical desde cedo. Nas décadas de 40 e 50, integrou dois importantes conjuntos regionais – o de Claudionor Cruz e o do Rago. Já nesta época, se destacava tocando clarinete e saxofone.
Segundo relatos, em meados dos anos 1950, o músico foi descoberto e levado para o centro do país pelo “eterno boêmio” Nelson Gonçalves (que também era gaúcho, nascido em Santana do Livramento). Em pouco tempo, Portinho tornou-se maestro e, na década seguinte, gravou seus primeiros discos, produções de música instrumental onde ele e sua orquestra tocavam desde o jazz norte-americano, até o cancioneiro de Noel Rosa, passando por outros gêneros populares da época, como o bolero, a balada romântica e o “iê-iê-iê” da Jovem Guarda.
Em São Paulo e no Rio, Portinho trabalhou com um respeitável número de artistas – Ed Carlos, Martinha, Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Noite Ilustrada, Caetano Veloso, entre eles. Num dancing paulista, descobriu a cantora Cláudia Barroso e usou de toda sua influência como produtor, arranjador e compositor para alavancar a carreira da artista no mercado fonográfico. Em 1970, produziu o arranjo de “Eu não sou cachorro, não”, grande sucesso daquele ano na voz de Waldik Soriano. Décadas depois, o próprio Waldik revelou que a idéia da canção partiu do maestro, o qual teria proposto ao cantor que fizesse uma canção sobre cachorros.
Em discos próprios, ou através de arranjos para outros artistas, Maestro Portinho deixou um legado superior a quinhentas gravações. Em duas delas, foi protagonista de uma interessante troca de gentilezas entre os cantores Lindomar Castilho e Teixeirinha. Ambos citam o maestro na abertura das composições “Sul Brasileiro” e “Centro-oeste brasileiro”, gravadas em 1978 e arranjadas pelo músico. “Alô maestro Portinho! Você que é de Rio Grande, pertinho de Pelotas, segura nossa homenagem ao sul brasileiro!” – deixou registrado em disco o goiano Lindomar no início de sua homenagem aos três estados meridionais do Brasil. O mesmo fez Teixeirinha (reverenciando o centro do país), meses depois.
Nos últimos anos de vida, Portinho regeu, como convidado, a Orquestra Jazz Sinfônica e também atuou como professor da Universidade Livre de Música, em São Paulo. Falecido há pouco tempo, o maestro deixou 35 elepês orquestrais e 5 como solista. Foi o arranjador brasileiro mais requisitado durante duas décadas por todas as gravadoras; produziu trilhas para novelas, festivais e desenhos animados e, em 1989, recebeu o Prêmio Sharp como melhor arranjador de pop-rock com o LP “Joelho de Porco”.
Portinho, que pertenceu a uma geração anterior, na qual Rio Grande respirava arte, através de seus teatros, cinemas, boates e cabarés – todos comparáveis aos das principais cidades brasileiras – foi fruto da cidade portuária que, até hoje, tem na música local um de seus pontos fortes. Seu exemplo é notável, mas, infelizmente, seu nome é pouco lembrado na terra em que nasceu.