Acervo
Autores
Alvarenga
Alvarenga, Murilo
- Compositor
O artista trabalhou como cantor, compositor e humorista, atuando no teatro, rádio e cinema, entre as décadas de 1930 e 1970. Ao lado de Diesis dos Anjos Gaia, Delamare de Abreu e Homero de Souza Campos, sucessivamente, formou a mais famosa dupla do cancioneiro popular brasileiro: Alvarenga e Ranchinho.
Explique-se: houve três formações diferentes da dupla Alvarenga e Ranchinho, sendo que Alvarenga permaneceu em todas. Esteve com Diesis entre 1933 e 1938 e, depois, entre 1939 e 1965; com seu meio meio-irmão, Delamare, Alvarenga atuou esporadicamente na década de 1950. Homero foi seu parceiro mais longevo: atuaram juntos entre 1965 e 1978, ano da morte de Alvarenga. Alvarenga chegou também a formar outra dupla, Alvarenga e Bentinho, com o artista José Vosno Filho, compondo uma das principais atrações do Casino da Urca, no Rio de Janeiro. Foi com Bentinho que esteve no Recife em 1942.
Era costume da DOPS/PE fichar os artistas em trânsito no momento em que chegavam à cidade para se apresentar em alguma casa de espetáculos, teatro ou festividade. No caso de Alvarenga, permanece a dúvida quanto ao ano de registro. A ficha de Alvarenga não possui data do registro, mas sim a sua idade: 29 anos, quando se sabe que ele nasceu em 1912. De fato, o registro pode ter ocorrido em 1941. Porém, é frequente encontrar erros nas fichas da DOPS/PE. Neste caso, o mais provável é que o registro tenha sido feito em 1942.
Em março daquele ano, o jornalista José Edson, do “Diario da Manhã”, alardeia grande ‘furo’ para nossos leitores: Alvarenga e Ranchinho, a dupla mais discutida do ‘broadcasting’ carioca, atuarão, ainda este mês, na Estação da Cruz Cabugá. No entanto, o jornalista comete uma ‘barriga’, já que a dupla que iria se apresentar no Recife era Alvarenga e Bentinho. O próprio jornal noticia um mês depois o sucesso de sua presença na emissora Radio Club de Pernambuco (P.R.A. 8), localizada nas imediações da avenida Cruz Cabugá: Seus primeiros programas marcaram indiscutivelmente um sucesso acima da expectativa mais otimista possível. Ao auditório da P.R.A.8 comparece, diariamente, uma enorme legião de ouvintes, todos ansiosos para tecerem aplausos aos dois populares caipiras do rádio carioca. A expectativa a que se refere deve-se ao fato de que naquela noite, a dupla apresentaria no Teatro de Santa Isabel um festival de arte que está credenciado a registrar grande sucesso, dada a simpatia de que gozam nesta cidade.
As duplas formadas por Alvarenga – fosse com Ranchinho ou com Bentinho – eram consideradas, cada uma a seu tempo, a mais popular do Brasil. Mas os chamados Milionários do Riso não gozavam de unanimidade. Alguns intelectuais da época menosprezaram o seu estilo popular. Exemplo destes foi o teatrólogo e jornalista pernambucano Valdemar de Oliveira, que lamentava o popularesco no rádio, considerando as duplas caipiras Jararaca e Ratinho e Alvarenga e Ranchinho artistas de péssimo gosto e sem representatividade cultural.
Alvarenga e Ranchinho misturavam apresentações musicais com toadas e modas de viola, além de paródias e sátiras políticas que causaram problemas com a polícia em algumas ocasiões. A música “Liga dos bichos” (1936), cuja letra relacionava os políticos a animais, causou problemas com a censura, que viu na canção uma alusão a Osvaldo Aranha, um dos principais ministros do presidente Getúlio Vargas. Levados à presença do presidente, Getúlio, ao ouvir a canção, não viu problemas e liberou a dupla.
Alvarenga trabalhou nas principais emissoras de rádio da época e no cinema. Faleceu no dia 18 de janeiro de 1978.