Acervo

Autores

Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX

João Pernambuco

Guimarães, João Teixeira
  • Compositor
  • ∙ Violonista

Filho de Teresa Vieira e Manuel Teixeira Guimarães, descendentes de portugueses, passou a infância no sertão de Jatobá. Com o falecimento do pai em 1891, a mãe casou-se novamente e mudou-se com os 11 filhos para Recife. João passou a freqüentar as feiras da cidade, onde encontravam-se violeiros e cantadores. A partir desse convívio, aos 12 anos já havia aprendido a tocar viola. Mais tarde empregou-se como ferreiro e após as jornadas de trabalho ia para o Mercado ou o Pátio de São Pedro, onde encontrava-se com seus mestres para tocar. Sem nunca ter freqüentado escola, aos 20 anos — em 1904 –decidiu transferir-se para o Rio de Janeiro levando seu violão e um grande conhecimento da cultura musical nordestina. Residindo na casa da irmã Maria, João começou a trabalhar em uma fundição e mais tarde reunia-se com músicos e companheiros de trabalho, principalmente na Lapa, em encontros musicais. Nessa época ganhou o apelido de João Pernambuco por estar sempre contando histórias de sua terra natal. Passou a residir em uma república na esquina das ruas Riachuelo e Inválidos, onde conheceu Donga e Pixinguinha, que já residiam lá. Essa república era freqüentada, entre outros, pelo poeta Catulo da Paixão Cearense, o violonista Satyro Bilhar e o escritor Afonso Arinos, um dos primeiros intelectuais a pesquisar e promover a música popular brasileira em conferências. João Pernambuco deixou o emprego de ferreiro, passando a trabalhar como calceteiro (calçando as ruas da cidade com paralelepípedos) e mais tarde como servente da prefeitura. A partir do início da década de 1910 começou a intensificar sua atividade nos meios musicais, freqüentando bailes de clubes carnavalescos e a Festa da Penha, local onde eram lançadas as novas produções musicais para o carnaval do ano seguinte. Alguns de seus companheiros desses eventos eram Quincas Laranjeiras, Caninha, Patrício Teixeira, entre outros. Em 1912 realizou sua primeira gravação como solista de violão pela gravadora Phoenix. Nessa época começou a sua parceria com Catulo, quando passou a cantar-lhe temas do folclore nordestino além de canções e toadas sertanejas de sua autoria para que escrevesse versos. Dessa forma nasceu a famosa canção Luar do Sertão, baseada no tema folclórico Engenho de Humaitá, além do tango Caboca de Caxangá. Um dos maiores sucessos do carnaval de 1913, este tango ou toada foi lançado pelo Grupo do Caxangá, conjunto de inspiração nordestina criado por João Pernambuco, que atuou nos carnavais de 1913 até 1919. Usavam roupa típica sertaneja com sandálias de couro, lenços no pescoço e chapéus de palha nos quais escreviam os nomes daqueles que foram seus mestres. A cada ano o grupo foi ganhando novos adeptos, contando com instrumentistas famosos da época como Pixinguinha, Donga, Bonfiglio de Oliveira, Jaime Ovalle, Jacob Palmieri, Quincas Laranjeiras, Lulu Cavaquinho e Nelson Alves. Com integrantes do Grupo do Caxangá, Pixinguinha fundaria em 1919 o famoso grupo Oito Batutas, do qual João Pernambuco fez parte em 1921, quando o grupo excursionou por vários estados brasileiros apresentando modinhas, tangos, desafios sertanejos, choros e sambas. Várias músicas de Pernambuco fizeram parte desse repertório, entre elas o choro Graúna, a embolada Seu Coutinho Pegue o Boi e a toada Poeta do Sertão, com versos de Catulo. Na década de 1920 passou a lecionar na loja O Cavaquinho de Ouro ao lado de seu amigo Quincas Laranjeiras, que já se dedicava havia vários anos ao ensino do violão como instrumento solista. Em 1926 gravou em solo de violão, pela Odeon, dois de seus maxixes: Mimoso e Lágrima, além dos choros Magoado e Sons de Carrilhões, acompanhado pelo cavaquinista Nelson Alves. Tendo criado, até essa época, um grande número de composições para violão solo entre polcas, maxixes, tangos, valsas e estudos, teve seu mérito reconhecido no primeiro número da revista O Violão, lançada em 1928: “[…] sem errar, pode-se mesmo dizer que foi João Pernambuco o criador dos nossos adoráveis maxixes, tangos brasileiros, no violão”.

Na década de 1930 teve o reconhecimento do maestro Villa-Lobos que chegou a declarar que “J. S. Bach não se envergonharia de assinar os estudos de João Pernambuco”. Em 1934, a convite de Villa-Lobos, passou a trabalhar como contínuo na Superintendência de Educação Musical e Artística. Gravou ainda uma série de cinco discos para a Columbia como solista de violão interpretando dez obras de sua autoria: os choros Pó-de-mico, Magoada, Reboliço, Recordando e Dengoso; os jongos Sentindo e Interrogando; as valsas Sonho de Magia e Suspiro Apaixonado e o fox-trot Rosa Carioca. Teve suas toadas, emboladas, cocos e baiões gravados pelos cantores Patrício Teixeira, Stefana de Macedo, Jararaca, Paraguassu e Januário de Oliveira.

Data detalhada de nascimento

02.11.1883

Data detalhada de falecimento

16.10.1947

Fonte de pesquisa

1. ALMIRANTE. No tempo de Noel Rosa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. 2. BARBOSA, Orestes. Samba: sua história, seus poetas, seus músicos e seus cantores. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1978. 3. ENCICLOPÉDIA DA MÚSICA BRASILEIRA: POPULAR, ERUDITA E FOLCLÓRICA. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1998. 4. FRANCESCHI, Humberto. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sarapuí, 2002.3. 5. LEAL, José de Souza; BARBOSA, Artur Luiz. João Pernambuco — arte de um povo. Rio de Janeiro: Funarte, 1982. 6. PINTO, Alexandre Gonçalves. O Choro — reminiscências dos chorões antigos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1978. (p. 57, 70, 124, 125) 7. RANGEL, Lúcio. Sambistas e chorões — aspectos e figuras da música popular brasileira. Rio de Janeiro, 1962.

Natural

Jatobá - PE