Acervo
Autores
Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX
Pixinguinha
Vianna Filho, Alfredo da Rocha
- Compositor
- ∙ Flautista
- ∙ Saxofonista
- ∙ Arranjador(a)
- ∙ Regente
Nascido no subúrbio de Piedade, Alfredo da Rocha Viana Filho, conhecido como Pixinguinha, passou a infância no bairro do Catumbi. Segundo seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som em 1966, o apelido surgiu quando na infância contraiu varíola (popularmente chamada de bexiga) e passou a ser chamado de Bexiguinha. Em sua casa o chamavam de Pizindim. Pertenceu a uma família numerosa, onde vários de seus irmãos eram músicos, filhos de D. Raimunda e do flautista Alfredo da Rocha Viana. Seu pai era funcionário dos Telégrafos e constantemente reunia amigos para tocar, entre eles Candinho Silva e Quincas Laranjeiras. Sua casa de oito quartos no Catumbi tornou-se conhecida como Pensão Viana, pois por diversas vezes abrigou amigos músicos como Irineu de Almeida e Bonfiglio de Oliveira. Aos dez anos Pixinguinha começou a estudar cavaquinho com os irmãos e logo passou a acompanhar o pai tocando em bailes e festas familiares. Em uma flauta de folha de flandres começou a tirar de ouvido as melodias que ouvia. Evoluiu tão rápido que o pai, entusiasmado com seu progresso, lhe deu uma flauta de prata importada da Itália. No carnaval de 1911, o oficleidista e bombardino Irineu de Almeida, então diretor de harmonia do rancho Filhas da Jardineira, que, vivendo em sua casa, tornara-se seu professor, convidou-o a participar da orquestra do rancho. Nesse mesmo ano, integrando o conjunto Choro Carioca (Pixinguinha no flautim, Irineu de Almeida no oficleide e bombardino, Bonfiglio de Oliveira no pistom, Leo e Otávio Viana nos violões e Henrique Viana no cavaquinho), realizou suas primeiras gravações como flautista, aos 14 anos, gravando várias músicas do mestre Irineu para Casa Faulhaber. No carnaval do ano seguinte Pixinguinha já atuou como diretor de harmonia do rancho Paladinos Japoneses. Levado pelo irmão China (Otávio Viana), obteve seu primeiro emprego como músico profissional em uma casa de chope na Lapa chamada La Concha. Passou então a exibir-se em vários cabarés. Em 1913, por indicação do violonista Tute, grande amigo da família e músico da orquestra do Cine-Teatro Rio Branco que acompanhava revistas teatrais, foi convidado para cobrir a ausência do flautista efetivo da orquestra, Antônio Maria Passos. O maestro Paulino Sacramento e o diretor do teatro relutaram em aceitar um músico tão jovem como substituto, mas tão logo começaram as apresentações tiveram uma grande surpresa ao perceber o entusiasmo da platéia com as variações de Pixinguinha. Quando Antônio Maria Passos retornou, a platéia se manifestou fazendo os contracantos introduzidos pelo novo flautista, e diante da insistência pelo seu retorno, Paulino Sacramento pediu que Pixinguinha fosse efetivado como músico da orquestra. Pouco tempo depois passou a integrar várias orquestras de salas de espera de cinemas. Em 1916 Pixinguinha estreou como autor na gravadora Odeon com o tango Dominante gravado pelo Bloco dos Parafusos. No ano seguinte gravou em solo de flauta duas músicas de sua autoria: a valsa Rosa e o tango Sofres Porque Queres. Desde 1914 Pixinguinha fazia parte do bloco carnavalesco Grupo de Caxangá, fundado por João Pernambuco e integrado por vários músicos de choro que se vestiam com roupas típicas sertanejas e usavam nomes de guerra inscritos em chapéus de abas largas. No carnaval de 1919 o grupo fez enorme sucesso apresentando o samba Já Te Digo, de Pixinguinha e China, em resposta à provocação de Sinhô com o samba Quem São Eles, sucesso do carnaval do ano anterior. A grande repercussão do samba chamou a atenção do diretor do elegante Cinema Palais, que pediu que Pixinguinha organizasse um grupo para tocar na sala de espera do cinema. E foi assim que nasceu o famoso grupo Oito Batutas, com integrantes do Grupo de Caxangá. O grupo, anunciado como “orquestra típica”, apresentava uma formação inusitada para platéia aristocrática do cinema: flauta, dois violões, cavaquinho, bandola, bandolim, reco-reco, pandeiro, piano e voz. Entretanto, a apresentação do repertório composto por sambas, choros, maxixes e emboladas, embora polêmica, foi bem recebida, contando com figuras ilustres na platéia como Rui Barbosa, Arnaldo Guinle e Ernesto Nazareth. O grupo passou a ser chamado para tocar em festas da alta sociedade e no elegante Café Assírio, acompanhando os dançarinos Duque e Gaby. A partir de então, influenciado por Duque, que já tinha uma carreira internacional, o milionário Arnaldo Guinle decidiu financiar uma viagem dos Oito Batutas a Paris. Seria a primeira excursão internacional de um grupo de música popular brasileira. Após uma excursão por vários estados brasileiros, o grupo viajou para Paris em janeiro de 1922 onde permaneceu por seis meses tocando no Dancing Scheherazade. Ao retornar da viagem o grupo seguiu, no ano seguinte, para Buenos Aires, onde realizou gravações de vários discos para Victor Argentina. Após esta viagem o grupo se desfez e o nome Batutas foi aproveitado por alguns de seus integrantes, em outras formações instrumentais influenciadas por jazz-bands. A partir do final da década de 1920 e início da década de 1930, Pixinguinha passou a trabalhar principalmente como regente e arranjador. Atuou como regente da orquestra do Cine Rialto que acompanhava a revista Tudo Preto apresentada pela Companhia Negra de Revistas. Foi assim que conheceu sua futura esposa Albertina, então estrela da companhia, cujo nome artístico era Jandira Aimoré. Em 1928, ao lado de Donga, organizou a Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, conjunto de estúdio da Parlophon, que realizou várias gravações de seus arranjos para sambas e maxixes de sua autoria e de outros compositores. Quando a Victor se instalou no Brasil em 1929, foi contratado como músico e arranjador exclusivo, passando a orquestrar quase todos os discos de carnaval executados pela Orquestra Victor Brasileira, além de lançar suas composições como Vem Cá, Não Vou, Urubatã e Carinhoso. Realizou também nesta fase gravações antológicas em solos de flauta de músicas como Agüenta, Seu Fulgêncio de Lourenço Lamartine e O Urubu e o Gavião. Ainda na gravadora Victor, Pixinguinha organizou outros dois conjuntos instrumentais: a Orquestra Diabos do Céu, que se destacou pela gravação de frevos, e o Grupo da Guarda Velha (composto entre outros, por Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Bonfiglio de Oliveira, Tute, Nelson Alves e Luís Americano), que se destacou pela gravação de sambas de partido-alto e chulas raiadas. A música mais conhecida de Pixinguinha, Carinhoso, teve a sua primeira gravação com letra de João de Barro em 1937 na voz de Orlando Silva. Em 1946 Pixinguinha substituiu a flauta pelo saxofone e passou a apresentar-se em dueto com o flautista Benedito Lacerda. São dessa fase as gravações de 1x0, Sofres Porque Queres, Ainda Me Recordo, Sedutor, O Gato e o Canário, Descendo a Serra, Os Oito Batutas, Urubatã, Ingênuo, Proezas de Solon, Devagar e Sempre, onde pode se ouvir nos contrapontos de Pixinguinha a influência direta dos contrapontos executados ao oficleide pelo seu mestre Irineu de Almeida nas gravações do Choro Carioca em 1911. No final da década de 1940 e início da década de 1950 Pixinguinha participou com Benedito Lacerda do programa O Pessoal da Velha Guarda produzido na Rádio Tupi pelo nacionalíssimo radialista e cantor Almirante, atuando também como arranjador e regente da Orquestra do Pessoal da Velha Guarda. O objetivo do programa era ressaltar o valor da música brasileira, frente à invasão da música estrangeira no país, revelando o repertório de vários compositores das primeiras gerações da história do choro que já haviam caído no esquecimento. Na década de 1960 Pixinguinha fez a trilha sonora para o filme Sol Sobre a Lama de Alex Viany e tornou-se parceiro de Vinícius de Moraes, que escreveu versos para suas músicas, entre as quais Lamentos e Samba Fúnebre. Neste mesmo período tornou-se amigo e parceiro do compositor e poeta Hermínio Bello de Carvalho (Harmonia das Flores, Isso É que É Viver, Isto Não Se Faz e Fala Baixinho), que produziu o LP Gente da Antiga com participação de Pixinguinha, João da Baiana e Clementina de Jesus (Odeon, 1968) e seu último LP, Som Pixinguinha (Odeon, 1971). Pixinguinha estabeleceu uma ponte de ligação entre o choro produzido no século XIX e o século XX, e tornou-se um dos pilares da música popular brasileira. Sua trajetória como compositor, instrumentista, regente e orquestrador contribuiu para fixar as bases do choro contemporâneo e até hoje ele é incontestavelmente reconhecido como um dos artistas mais geniais da nossa história musical.