Acervo
Autores
Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX
Jacob do Bandolim
Bittencourt, Jacob Pick
- Bandolinista
- ∙ Compositor
Não havia músicos na família de Jacob. Seu primeiro instrumento foi um violino, que ganhou aos 12 anos. Sem intimidade com o arco, usava um grampo como palheta. Depois de arrebentar algumas cordas, trocou o violino pelo bandolim, que tem a mesma afinação, aprendendo a tocar praticamente sozinho. Aos 15 anos já se apresentava no rádio, tocando também violão, cavaquinho, guitarra portuguesa e a violinha - um instrumento desenvolvido por ele a partir do violão tenor.
Sua primeira gravação acontece em 1941, a convite de Ataulfo Alves, com quem registra pela primeira vez Leva Meu Samba e Ai Que Saudades da Amélia. A estreia como solista se dá em 1947, quando grava em 78 rpm seu choro Treme-treme e a valsa Glória, de Bomfiglio de Oliveira. Essencialmente autodidata, em 1948 Jacob decide se aprofundar em escrita e teoria musical com o professor e compositor Dalton Vogeler. Essa necessidade de estudar surge quando Radamés Gnattali lhe dedica a suite Retratos, peça complexa para bandolim, regional e orquestra, em cujos movimentos Radamés homenageia quatro compositores que considera fundamentais na formação de nossa música instrumental: Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Chiquinha Gonzaga.
De 1951 a 1961 Jacob seria acompanhado pelo Regional do Canhoto em seus LPs. Em 1961, cria seu conjunto definitivo, inicialmente chamado Jacob e seu Regional, depois Jacob e seus Chorões e, por fim, Conjunto Época de Ouro - com Dino Sete Cordas, César Faria, Carlos Leite, Gilberto d'Ávila, Jorginho do Pandeiro e Jonas. Em 1968, Jacob e o Época de Ouro realizam, ao lado de Elizeth Cardoso e Zimbo Trio, um show memorável no Teatro São Caetano (do qual resultaram 3 LPs) apresentando um repertório que passava dos clássicos do choro aos da bossa nova e da canção brasileira. Foi o último registro público de Jacob, que viria a falecer pouco depois.
Durante sua carreira, Jacob escreveu e gravou mais de cem composições, catalogadas no site do Instituto Jacob do Bandolim: choros, sambas, modinhas, frevos e valsas que compõem hoje o repertório clássico do choro: Noites cariocas, Vibrações, Treme-treme, Santa Morena, Doce de coco, O Voo da mosca, Biruta e Receita de samba e tantas outras. Como arranjador, muito do que escreveu ficou incorporado às composições originais dos compositores - caso de Brejeiro, de Ernesto Nazareth, e de Ingênuo, de Pixinguinha e Benedito Lacerda. Seu canto do cisne como instrumentista e arranjador foi o LP Vibrações, gravado logo após o período de estudos desencadeado pela suite Retratos. Jacob soube extrair conhecimentos de instrumentação e arranjo de Radamés e transpô-los para a formação do Época de Ouro num disco que mesclava composições próprias com obras de dois de seus ídolos, Pixinguinha e Nazareth. Estudioso, pesquisador e colecionador metódico do choro, desde suas origens, Jacob foi um divisor de águas na história da música instrumental brasileira.