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Autores
Enciclopédia Ilustrada do Choro no Séc. XIX
Ernesto Nazareth
Nazareth, Ernesto Júlio de
- Pianista
- ∙ Compositor
Ernesto Júlio de Nazareth nasceu no morro do Nheco (hoje morro do Pinto), na antiga Cidade Nova, no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois sua família foi morar no Centro, perto da rua Frei Caneca. Por volta dos dez anos de idade já tinha aprendido a solfejar com sua mãe e passou a ter aulas de piano com o professor Eduardo Madeira e mais tarde com Lucien Lambert. Aos 14 anos Nazareth compôs a sua primeira polca-lundu, a que deu o título Você Bem Sabe, dedicada a seu pai. Em seguida lançou e editou várias outras composições, mas só em 1893, aos 30 anos de idade, tornou-se nacionalmente conhecido com o sucesso do seu tango Brejeiro, editado pela Casa Vieira Machado. Aos 23 anos casou-se com Teodora Amália de Meireles, com quem teve quatro filhos. Deu aulas particulares, tocou em clubes e casas de família, foi pianista de salas de espera de cinemas, como o Cine Odeon (para o qual em 1910 compôs seu famoso tango Odeon) e foi contratado para fazer “demonstrações” das novidades musicais aos fregueses interessados em comprar partituras nas lojas de música. Trabalhou também, durante algum tempo, como escriturário do Tesouro Nacional. O repertório que Nazareth tocava, além de composições de sua autoria, incluía peças de Chopin, Schumann, Liszt, Beethoven, Gottschalk, Chaminade, Artur Napoleão, entre outros. Nos últimos anos de sua vida fez concertos na capital e no interior paulistas e em várias cidades do sul do país, onde recebeu homenagens de seus admiradores. Nazareth foi o compositor mais genial da história do choro. Foi considerado pelo compositor erudito, folclorista, e escritor paranaense Brasílio Itiberê (1896–1967) o autêntico precursor da música erudita de caráter nacional. Na música popular, ele foi o fixador do tango brasileiro. Itiberê conta que certa vez o folclorista Oscar Rocha perguntou a Nazareth como ele tinha chegado a compor os seus tangos com um caráter rítmico tão variado e tão inédito naquela época. Nazareth respondeu com simplicidade que ele ouvia muito as polcas e os lundus de Viriato, Callado, Paulino Sacramento e sentiu desejo de transpor para o piano a rítmica dessas polcas-lundus. Brasílio Itiberê, em seu ensaio “Ernesto Nazareth na Música Brasileira”, publicado em 1946 no Boletim Latino-Americano de Música, revela que foram os tangos de Nazareth que fizeram sua iniciação folclórica. O autor recorda como ficou fascinado quando encontrou o pianista tocando em frente ao velho cinema Olímpia na rua Visconde do Rio Branco. “[…] Eu era menino, já andava estudando piano e tocando sem grande entusiasmo as primeiras sonatas de Mozart. […] Qualquer coisa de estranho me chamou atenção. Na sala de espera do cinema, um autêntico pianeiro carioca botava para o ar umas melodias tão novas que eu fiquei inteiramente fascinado. Quando o homem parou, notei que ele tinha um ar inspirado, usava bigodes à kaiser e ostentava um enorme solitário de vidro no dedo minguinho. Um piano de armário incrível, com dois castiçais de metal azinhavrado, enfeitado com cortinas furta-cor e o teclado tatuado e carcomido de pontas de cigarro. Mas daquela arataca velha, transformada em cinzeiro, surgiam melodias tão belas, ritmos tão ágeis — que me deixaram completamente basbaque. O pianeiro notou o meu entusiasmo de menino, convidou-me para tocar alguma coisa. Eu abanquei, e ali mesmo comecei a tirar de ouvido os primeiros tangos de Nazareth […]. Desde esse dia adquiri uma das mais ingênuas e louváveis convicções da minha vida: a da existência da música brasileira.”